005/2021: DESCOLORINDO ELOÁH

 


"Às vezes me pergunto o que há de tão errado em mim ao ponto de fazer com que todos me olhem com desprezo e desdém. O que há de odioso em minha imagem que faz com que meus próprios pais sequer consigam me olhar nos olhos."

Esse é Eloáh... 

Olá, tudo bem com vocês??

Costumam me chamar de manteiga derretida. Sim, sou muito sensível! Entretanto, não é comum eu sofrer por personagens. Eis que ler Descolorindo Eloáh, de Felipe Saraiça,  fez com que isso definitivamente caísse por terra! 

Não chorei, mas  acho que esse foi um dos personagens que mais aguçou em mim o instinto de torcida por um final ameno. Eloáh passa por tantas questões próximas do cotidiano, na vida real, que não tem como não nos pegarmos querendo o melhor para esse menino tão jovem e tão cheio de conflitos.



Título Original: Descolorindo Eloáh

Autora: Felipe Saraiça

Páginas: 247

Ano: 2019

Editora: Pendragon 

Sinopse

O nascimento de Eloáh foi celebrado com grande alegria por sua família. Com grandes olhos castanhos e cabelos loiros, conquistou rapidamente a alegria de todos ao redor. Na infância, serelepe e de curiosidade insaciável, logo aprendeu a ler e escrever. Mergulhou em livros e histórias. Era o orgulho de seu pai e mãe.

Porém, conforme o seu crescimento, passou a notar cochichos, olhares diferentes e a relação com seus pais desandou. Tinha nove anos e não entendia o motivo daquelas reuniões ao seu respeito e nem porque um padre sempre lhe benzia e orava, usando versículos e palavras que não compreendia.

Foi com doze anos que seu pai entrou em seu quarto e teve uma conversa de quase duas horas. Após sua saída, só conseguiu fechar os olhos, deixar as lágrimas caírem e tentar esquecer a palavra que ecoava em sua mente: aberração.



A frase final da sinopse já nos impacta!

"Ver-me além dos olhares dos ódios das pessoas ao meu redor. Será isso algo possível?"

 Eloáh não conseguia encarar-se no espelho.

Jovem — diante de uma família construída à base de preceitos religiosos e aparências — muitas vezes sente-se como se estivesse invisível diante de todos, em casa, na igreja, na escola...

Em controvérsia, em alguns momentos, era como se fosse visado demais.

"... não há como pegar uma caixa e guardar a si mesmo nela, trancafiando seus medos, desejos, e reprimindo a sua verdadeira identidade em uma espécie de calabouço de emoções, onde os sonhos são mortos e deixados para trás".

Ao finalmente enxergar-se, consegue mirar-se através de suas lágrimas.

Assim como sua mãe, Eloáh gosta da música e a forma como provoca-lhe certa liberdade na tentativa de qualquer expressão, mesmo que em suas rotinas isso seja algo tão reprimido.

Um menino, perdido, em constante conflito interno.



Entre sua difícil opção de ressignificar-se ou de descobrir de fato quem seja, há, em contrapartida, um embate religioso intenso.

"Eu me chamo Eloáh. O meu corpo é uma prisão. Suas paredes são fortes e claustrofóbicas".

Uma narrativa que mescla o poético ao melancólico, voltado a histórias reais.

Fico imaginando quantos "Eloáhs" devam existir nesse mundo afora e que  Felipe Saraiça tão bem nos apresentou em uma trama rica em bons usos das palavras (realmente adoro isso!). 

Os ambientes e personagens nos fazem parar a refletir sobre questões tão atuais num drama jovem adulto tão bem trabalhado, inclusive, em suas pesquisas, algo que soa natural pelo decorrer da leitura.

Uma obra que traz de maneira intensa e provocativa assuntos como representatividade e relacionamento abusivo.

Super recomendo!


Sobre o autor


Felipe Saraiça é vencedor do prêmio Pérolas da literatura e escreve desde 2016. É autor de Palavras de rua — que foi adaptado para o cinema —, Para onde vão os suicidas, Descolorindo Eloáh e o livro de poemas O amor é um plágio. Já quis ser jogador de futebol, cantor, mas acabou se encontrando verdadeiramente na literatura, um sonho que surgiu de forma repentina, mas se tornou parte essencial da sua vida. Aborda assuntos delicados em suas narrativas e acredita que os livros têm o poder de transformar as pessoas. Também ganhou o Festival de Cinema de Caruaru com o longa-metragem baseado em seu primeiro livro, ao qual escreveu o roteiro junto ao produtor Léo Batista.


E aí, já leram?

Bora conversar!

Beijos literários!


3 comentários

  1. Assim eu que me emociono, rs. Agradeço demais por todo apoio e amei a forma com que retratou a história e Eloah. Uma das minhas resenhas favoritas, sem duvidas 💜

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  2. Já fiquei com pena do Eloah na primeira citação do post. Parece ser uma história pesada, inclusive por ter ares de realidade. Como você mesma disse, quantos Eloahs devem existir por aí. Mesmo sem ler já fiquei torcendo para que o final seja feliz. Dica anotada!

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  3. Já vi comentários positivos sobre esse livro em alguns blogs e entendo o porquê. Pela sinpose podemos ter noção da trama delicada em que Eloáh se encontra, não deve ser fácil passar por tanto sofrimento. Que bom que a representatividade está sendo cada vez mais levada para a literatura, emociona a todos nós.

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